Quando a Diretora Global de Educação do Banco Mundial (Bird), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU) curte um texto que você escreveu, a gente fica um pouco mais feliz.
Obrigado pela leitura Claudia Costin.
terça-feira, 16 de setembro de 2014
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
A BIBLIOTECA DE VAN GOGH
Inúmeras vezes, nas cartas ao irmão Theo, Vincent
Van Gogh discorre sobre literatura com a argúcia de um crítico e a paixão de um
leitor voraz. A literatura é um tema tão
recorrente para Van Gogh que nem nos surpreendemos quando ele confessa que
poderia tê-la escolhido como meio de expressão, caso a pintura não houvesse se
afirmado em sua vida.
A bipolaridade emocional que o assolava afastou os
amigos, incendiou o pavio das severas crises de depressão que sofreu, mas
raramente o impediu que se dedicasse com afinco à criação dos seus quadros e à
leitura intensa. Duas fortalezas resistiram até o fim na alma de Van Gogh, a
pintura e os livros.
Quem não pensa em Van Gogh também como um escritor
certamente não leu suas cartas, um valioso acervo literário e histórico. E
Vincent não se restringia a escrever, ele pensava sobre literatura. A rica
correspondência com Emile Bernard, um pintor que se arriscava como poeta,
demonstra sua lúcida habilidade em avaliar textos.
Não foi à toa que o perfil mais visceral de Van Gogh
foi desenhado por um escritor francês que nos deixou o manifesto intitulado “Van Gogh, o suicida da sociedade”, de
Antonin Artaud:
“Não,
Van Gogh não era louco, mas suas pinturas eram bombas atômicas, cujo ângulo de
visão, ao lado de todas as outras pinturas polêmicas da época, foi capaz de
abalar gravemente o conformismo larvar da burguesia” ...
Continua sobre Van Gogh:
“E
o que é um autêntico alienado? É um homem que preferiu torna-se louco, no
sentido em que isso é socialmente entendido, a conspurcar uma certa ideia
superior da honra humana. Foi assim que
a sociedade estrangulou em seus asilos todos aqueles dos quais ela quis se livrar
ou se proteger por terem se recusado a se tornar cúmplices dela em algumas
grandes safadezas. Porque o alienado é também o homem que a sociedade se negou
a ouvir e quis impedi-lo de dizer insuportáveis verdades”.
“Há
em todo demente um gênio incompreendido em cuja mente brilha uma ideia
assustadora e que só no delírio consegue encontrar uma saída para as coerções
que a vida lhe preparou”.
A pintura de Van Gogh está ligada, numa comunhão
indissolúvel, à obra escrita que ele nos legou através das suas cartas. Uma
complementa a outra. Daí sua fama e sua história precederem e predominarem
sobre a arte que ele produziu.
Protagonista de amores obsessivos, do famoso caso em
que decepa a própria orelha para entregar a uma prostituta, dos acessos de
fúria, dos mergulhos profundos na melancolia. Tudo em torno de Van Gogh o
rotulava como louco, mas as suas maiores predileções literárias espelhavam um
homem romântico e voltado para a razão. Era um pintor que valorizava a palavra,
conforme revela ao amigo Emile Bernard em uma de suas cartas:
“Há
tanta gente, especialmente entre nossos camaradas, que imagina que as palavras
não significam nada – pelo contrário, a verdade é que dizer uma coisa bem é tão
interessante e difícil quanto pintá-la. Há a arte das linhas e das cores, mas
também existe a arte das palavras, e esta permanecerá”.
Destacava a importância que via na criatividade:
“Um
homem pode ter uma soberba orquestração de cores e não ter ideias”.
A admiração incondicional de Van Gogh por Émile Zola
demonstra o fascínio que o racionalismo científico lhe causava. Zola é citado incontáveis
vezes em suas correspondências.
“Chegando
à França como um estrangeiro, eu, talvez melhor do que os franceses nascidos e
criados aqui, senti o que havia em Delacroix e em Zola; e a minha admiração
sincera e total por eles não conhece limites”.
“Em
sua qualidade de pintores de uma sociedade, de uma natureza tomada em sua
plenitude, assim como Zola e Balzac, produzem raras emoções artísticas naqueles
que os amam, justamente porque eles abrangem a totalidade da época que
descrevem”.
Vincent exprimia muitos elogios aos autores
franceses, principalmente os do século 19, com exceção de Baudelaire, por quem
nutria certa implicância por ter criticado pintores que ele idolatrava.
“Vamos
tomar Baudelaire por aquilo que ele realmente é: um poeta moderno, do mesmo
modo que Musset, mas que ele deixe de se meter a falar de pintura”.
Em uma das cartas comenta que estudou um dos livros
de Víctor Hugo: “O último dia de um
condenado”, um manifesto contra a pena de morte que suscitou enorme
repercussão ao ser publicado. Há trechos em ele faz referências a Guy de
Maupassant. Lia historiadores, como Jules Michelet, para conhecer a história da
Revolução Francesa. Mas Van Gogh não deixava de praticar algum ecletismo literário
quando fala das suas leituras de Shakespeare, Charles Dickens, Beecher Stowe,
Ésquilo, da bíblia e dos evangelhos.
“Meu
Deus, como é belo Shakespeare. Quem é misterioso como ele? Suas palavras e sua
maneira de fazer equivalem a um pincel fremente de febre e emoção. Mas é
preciso aprender a ler, como é preciso aprender a ver e aprender a viver” (Van
Gogh em Cartas a Theo)
É de Van Gogh uma das mais belas sentenças que
podemos encontrar sobre a nossa humanidade em qualquer literatura.
“Eu
também gostaria de saber aproximadamente o que é que eu sou. Talvez eu seja a
larva de mim mesmo’. (Carta a Emile Bernard)
Ao terminarmos de ler as cartas de Vincent, nos
sucede um sonho encharcado de frenética juventude, mas um súbito cansaço nos
envelhece. Colocamos de lado aquele velho chapéu de palha, rodeado de velas
acesas, que usamos para romper a noite em que pintamos luzes febris na tela
branca. Velas que se apagaram com o silêncio em luto dos corvos sobre os campos
de trigo.
terça-feira, 9 de setembro de 2014
ESCREVER - A VOCAÇÃO PARA O AVESSO DAS COISAS
O
escritor é o avesso - desde a adolescência foi como defini
esse personagem mergulhado no vácuo, buscando na própria dissolução construir
com as palavras um universo que sempre revela a alma daquele que escreve.
Alguns escritores se apressam em dizer que não fazem da prosa ou da poesia um
confessionário, quem diz isso é um mentiroso, porque todo escritor mente sobre
suas reais intenções. Não há literatura sem algum tipo de confissão, que venha
ela criptografada, envernizada ou camuflada. Talvez, escrever seja dizer a sua verdade
fingindo que é a verdade do outro.
“O poeta é um
fingidor” - sentenciava Fernando
Pessoa.
E foi com Pessoa que eu vivi a primeira epifania
literária. Adolescente, de férias num sítio em Petrópolis, puxo à revelia um
livro da biblioteca e me deparo com quatro versos que agiram em mim como a Pedra
Filosofal. Transformaram meu infantil pensamento de jovem burguês numa avassaladora
consciência crítica. A implosão de um mundo ilusório deu lugar às ruínas que
formam a realidade.
“Os Deuses
vendem quando dão,
Compra-se
a glória com desgraça,
Ai
dos felizes, porque são
Só
o que passa!”
Versos clássicos que constam em “Mensagem”. Por anos a fio essa estrofe
me assombrou, dela desabrochou uma incurável inquietação. Todo o sentido fugaz
que a vida parecia ter na juventude desapareceu diante da desconstrução abissal
que a poesia é capaz de causar. Fernando
Pessoa me apresentou ao avesso e foi a primeira vez que sonhei a pretensão
de ser escritor.
Escrever parecia simples, parecia fácil no início.
Na primeira página em branco descobrimos que é preciso adestrar a emoção pela
razão, que é crucial domar a palavra. Quando nascem as primeiras linhas, os
primeiros parágrafos, o texto ganha o efeito de um espelho nos impondo o
sentimento de uma obra incompleta, incapaz, simplória. É sincero quem diz que
escrever é cultivar a dor. Mas por que escrevemos? Porque algum livro, num período
qualquer, nos convenceu. Quem escreve vicia no isolar-se em si mesmo, habitua-se
ao silencioso deslizar da caneta ou ao tique ritmado do teclado costurando
nossos fragmentos para nos ampliar em narrativas, versos ou em outros
fragmentos que almejam nos trazer sentido. Quem escreve escolhe existir no
avesso das coisas que Drummond
exaltou.
Acredito que todo escritor nasce de um Big Bang íntimo, sucessivas implosões
que o capacitam a criar as maquetes impalpáveis que se erguem nos livros.
A minha segunda implosão viria quando conheci um
escritor de fato: Víctor Giudice, pai
de um querido amigo. Víctor era a antítese do que eu imaginava de um escritor.
Carismático, divertido, um magistral contador de histórias. Éramos um grupo de
amigos, todos muito jovens, e passávamos horas ouvindo entusiasmados os causos
do Víctor. Meu primeiro contato com a sua obra foi a leitura de um conto
chamado “O Arquivo”, uma fantástica jornada
ao avesso de um homem.
Até conhecer o Víctor eu pensava em fazer Biologia,
depois de conhece-lo fiz o vestibular para Letras. Ao ser aprovado, foi o Víctor
que me levou para conhecer o campus da UFRJ. Este episódio me recordou um filme
americano, repleto de clichês, intitulado no Brasil como “Encontrando Forrester”, Sean
Connery fazia o papel de um escritor que tutelava um rapaz talentoso, mas
em conflito com sua aptidão. Existem pessoas que podem fortalecer nossa opção
por um caminho que hesitávamos seguir.
A terceira implosão veio com duas frases que iniciam
a “Hora da Estrela”, de Clarice Lispector.
“Tudo no mundo
começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida”.
Foi quando disse sim e confrontei meu avesso. Que eu
seja simplório, inacabado, incompleto, mas literatura remendaria meus retalhos,
escrever anunciava a única redenção possível.
Escrever
é estar no extremo de si mesmo – ensina João Cabral de Melo Neto.
Antes da Internet,
dos Blogs e das Redes Sociais, a leitora mais dedicada de um aspirante a
escritor eram as gavetas. Hoje temos o privilégio que muitos não alcançaram e
podemos compartilhar, sem fronteiras, os textos que produzimos. Uma benção. Às
vezes, uma tragédia.
“Chego, agora,
ao inefável centro de meu relato, começa aqui meu desespero de escritor. Toda
linguagem é um alfabeto de símbolos cujo exercício pressupõe um passado que os
interlocutores compartem; como transmitir aos outros o infinito Aleph, que
minha temerosa memória mal e mal abarca?” (O Aleph – J.L.Borges)
Jorge
Luiz Borges trouxe o meu desespero, na grandeza
absoluta e inquestionável da sua narrativa. O Aleph me mostrava a distância entre escrever e ser escritor, o
abismo entre o gênio e o medíocre. O Borges cego, que germinou numa biblioteca,
me fez aceitar o inalcançável, mas também me convenci que o único patrimônio de
uma vocação é a insistência.
“Muitas vezes
pensei quão interessantemente podia ser escrita uma revista por um autor que
quisesse – isto é, que pudesse – pormenorizar, passo a passo, os processos
pelos quais qualquer uma de suas composições atingia seu ponto de acabamento.
Por que uma publicação assim nunca foi dada ao mundo é coisa que não sei
explicar, mas talvez a vaidade dos autores tenha mais responsabilidade por essa
omissão do que qualquer outra causa.”
(A Filosofia da composição, de E.A.Poe)
No século 19, Poe
reclamava do egoísmo didático dos autores eméritos. No século 21, escritores de
talento questionável ganham dinheiro ensinando banalidades com seus métodos
pasteurizados. Sim, o tempo muda os hábitos e precisamos saber se há benefício
nisso. Recebo como afronta quando alguém afirma, com gesto largo e orgulhoso,
que faz literatura comercial. Como? A língua é legado e a palavra é um
patrimônio, jamais pode servir ao mercado ou à vaidade, a natureza da palavra é
partilhar.
Alguém poderá me censurar quando eu disser que nunca
me interessei em aprender a escrever dissecando formalmente as obras dos
grandes mestres.
“O que tem de
bom na galinha assada é que ela não cacareja” – esclarecia Quintana em Poemas para a Infância.
A leitura eficiente não quer radiografar o método,
quer saborear os temperos e assim decifrar a receita. Não tenho fé em nenhum
bom escritor que negue ter brotado de leituras honestas e vastas. Os legítimos
escritores foram persuadidos a escrever por algum livro que os arrebatou. Fiz
Letras sem nunca me apegar a erudição cirúrgica da autópsia literária.
“A primeira
condição de quem escreve é não aborrecer” – me avisa, somente agora, Machado de Assis.
Pois termino aqui meus devaneios com a única máxima
que me faz desejar aprender e ir adiante: escrever é seduzir.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
FASHION WEEK LITERÁRIA
Em 1873, Machado de Assis escreveu um dos seus
melhores artigos: “O instinto de
nacionalidade”. O texto, ainda hoje atualíssimo em seu corpo de ideias,
mostra o amadurecimento e a formação da identidade literária brasileira a
partir das bases construídas por autores do século 19. Machado indica que é na
essência nacional e no domínio do idioma que reside a independência da
literatura de qualquer país. A visão de
Machado sobre o papel do escritor é de tamanha e paradoxal contemporaneidade
que nos permite estabelecer um diálogo atemporal através de comentários.
Machado
de Assis - Quem
examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço,
certo instinto de nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do
pensamento buscam vestir-se com as cores do país, e não há de negar que
semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro.
Não
há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente, deve
principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece a sua região; mas não
estabelecendo doutrinas absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do
escritor antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu
tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no
espaço.
* Relendo as considerações de Machado, quase podemos
acreditar que a nossa literatura ficou estagnada no estágio da adolescência,
poucos passos lançamos à frente, breve foi o leque que se abriu. Não
ultrapassaram um punhado de nomes os autores modernos que buscaram refletir
nossas raízes e que se tornaram universais por serem genuinamente nacionais no
uso da língua que decifra e espelha o ambiente e o seu tempo. A maioria dos
jovens escritores brasileiros estão empenhados em copiar fórmulas importadas e
modismos temporários. Raros são as mudas de criatividade que brotam em terra
tão árida. Alguns autores conseguem reverberar a ausência de identidade em pretensos
romances existenciais vagos e supérfluos.
Machado
de Assis – Estes
e outros pontos cumpria à crítica estabelece-los, se tivéssemos uma crítica
doutrinária, ampla, elevada, correspondente ao que ela é em outros países. Não
há temos... A falta de uma crítica assim é um dos maiores males de que padece a
nossa literatura.
* O velho e bom Machado toca numa ferida aberta. Já
houve um período, nos meados do século 20, que cultivamos uma crítica atuante e
especializada. Por coincidência, uma das fases mais fecundas da nossa
literatura. Mas a crítica morreu e foi sendo substituída por um câncer
incurável, o marketing literário. Saíram os críticos, entraram os resenhistas,
que nada mais são do que leitores usados por autores e editores como massa de
divulgação, não existindo neles critérios ou formação que os qualifiquem.
A violenta difusão dos best-sellers internacionais, acompanhada da redução do livro a um objeto
comercial, fazem com que iniciantes e jovens autores se subordinem ao que
chamam de Mercado Editorial. A literatura brasileira está sendo colonizada
pelos golpes implacáveis de um modelo que dita os temas, a linguagem e as cores
que querem fazer predominar. Ao mercado não interessa a identidade, não existe
identidade, não buscam a literatura como obra de arte. Na verdade, nem se
empenham em formar leitores. O que interessa são as vendas, a necessidade do
lucro imediato.
Machado
de Assis – Em
que peca a geração presente? Falta-lhe um pouco mais de correção e gosto; peca
na intrepidez às vezes de expressão, na impropriedade das imagens, na
obscuridade do pensamento. A imaginação, que há deveras, não raro desvairia e
se perde, chegando à obscuridade, à hipérbole, quando apenas buscava a novidade
e a grandeza.
* O que impressiona é que Machado escreveu este
artigo em 1873 e se iniciarmos a leitura desconhecendo o nome do autor parecerá
que estamos acompanhando uma análise sobre a presente paisagem literária.
Novamente, constatamos que pouco evoluímos e estamos aceitando a colonização
cultural imposta por um suposto mercado. Alguns escritores contemporâneos estão
mais preocupados em ter suas obras traduzidas para o inglês do que receber o
abraço dos conterrâneos. Há uma inversão de valores impulsionada pela fome da
visibilidade, do sucesso e do dinheiro. Neste trem desgovernado é mais
importante ser lido do que ler.
No redemoinho capitalista, os autores neófitos
entregam-se à submissão, contratam consultores literários (alguns que vivem
fora do Brasil) para aprenderem a escrever e estruturar romances de consumo
descartável. Adotam uma linguagem pasteurizada, por ouvirem dizer que será mais
fácil atingir maior quantidade de leitores, desprezam a qualidade em nome do
alcance de um público mais vasto. O livro vai se transformando numa peça
decorativa.
Os badalados jovens autores, lançados por grandes grupos
editoriais, fazem questão de se rotularem como “jovens” (como se isso fosse
algum selo de genialidade precoce), entregam as capas de seus livros a
depoimentos e chancelas de escritores estrangeiros num patético esforço de
ostentar prestígio.
No nosso acervo teatral, também parco de bons
autores, tivemos na década de 80 um movimento cômico batizado de “Besteirol”.
Às vezes, parece que o Besteirol se espalhou tardiamente por todo o campo
literário nacional, fincando residência preferencial nos romances. No Besteirol
que se estabeleceu nos romances não há humor, somente o eco trágico de quem não
mais consegue expressar narrativas com a própria voz.
Machado
de Assis – Não
se leem os clássicos no Brasil... Não se leem, o que é um mal... Cada tempo tem
o seu estilo. Mas estudar-lhes as formas mais apuradas da linguagem,
desentranhar deles mil riquezas, que, à força de velhas se fazem novas, - não
me parece que se deva desprezar. Nem tudo tinham os antigos, nem tudo têm os
modernos; com os haveres de uns e outros é que se enriquece o pecúlio comum.
Outra coisa que eu quisera persuadir a mocidade é que a precipitação não lhe
afiança muita vida aos seus escritos. Há um prurido de escrever muito e
depressa; tira-se disso a glória, e não posso negar que é caminho de
aplausos... Faça muito embora um homem a volta ao mundo em oitenta dias; para
uma obra-prima do espírito são precisos alguns mais.
* Quem esteve na 23ª Bienal do Livro em São Paulo, em
2014, se deparou com o caos. Aquilo se parecia, muito mais com um camelódromo
sem lei ou talvez com uma Fashion Week
literária de deslumbrados, nunca com um encontro de escritores querendo
compartilhar seus trabalhos. Uma calamidade.
Para a Bienal deste ano, só haveria salvação se
Jesus a tivesse invadido e expulsado os vendilhões do templo.
Machado
de Assis – Aqui
termino esta notícia. Viva a imaginação, a delicadeza e força de sentimentos,
graça de estilo, dotes de observação e análise, ausência às vezes de gosto,
carências às vezes de reflexão e pausa, língua nem sempre pura, nem sempre
copiosa, muita cor local, eis aqui por alto os defeitos e as excelências da
atual literatura brasileira, que há dado bastante e tem certíssimo futuro.
* Resta-nos rogar que Machado não tenha sido um mero
“bruxo” e que o tempo prove que ele também foi o “profeta” do Cosme Velho.
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